quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Elizabeth Bishop



Uma arte



A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.
Elizabeth Bishop (8/2/1911-06/10/1979)
Embora tenha produzido grande parte de sua obra nos 16 anos em que viveu no Brasil (onde foi condecorada com medalha da Ordem de Rio Branco, em 1971) , nenhum poeta de sua geração foi mais premiado que Elizabeth Bishop nos Estados Unidos.
Ganhadora, entre muitos outros, do National Book Award, do Premio Pulitzer em 1956, do Prêmio da American Academy of Arts and Letters (para onde foi eleita em 1976) foi a primeira mulher e primeiro cidadão norte americano a receber o Premio Neustadt.
Deixou menos de cem poemas, mas o interesse por sua obra só tem crescido.
Retornou definitivamente aos Estados Unidos, onde ensinou Poesia em Harvard e na New York University.
Faleceu vítimada pelo rompimento de um aneurisma.

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