Lapinha
Quando
éramos pobre e eu menina,
era
assim o Natal em nossa casa:
quatro
semanas antes
a
palavra Advento sitiava-nos,
domingo
após domingo.
Comeríamos
melhor naquele dia,
seríamos
pouco usuais:
vinho,
doces, paciência.
Porque
o Menino estremecia no feno
e
nos compadecíamos de Deus até as lágrimas.
Olhando
a manjedoura, o que eu sentia
- sem
arrimo de palavras-
era
o que sinto ainda:
"O
desejo de esbeltez será concretizado."
À
luz que não tolera excessos,
o
musgo, a areia, a palha cintilavam,
a
pedra. Eu cintilava.
(Adélia
Prado)
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