domingo, 22 de dezembro de 2013

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Adélia Prado

Lapinha
Quando éramos pobre e eu menina,
era assim o Natal em nossa casa:
quatro semanas antes
a palavra Advento sitiava-nos,
domingo após domingo.
Comeríamos melhor naquele dia,
seríamos pouco usuais:
vinho, doces, paciência.
Porque o Menino estremecia no feno
e nos compadecíamos de Deus até as lágrimas.
Olhando a manjedoura, o que eu sentia
- sem arrimo de palavras-
era o que sinto ainda:
"O desejo de esbeltez será concretizado."
À luz que não tolera excessos,
o musgo, a areia, a palha cintilavam,
a pedra. Eu cintilava.
(Adélia Prado)

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