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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mario Quintana

Viração
Voa um par de andorinhas, fazendo verão.
E vem uma vontade de rasgar velhas cartas,
velhos poemas, velhas contas recebidas.
Vontade de mudar de camisa,
por fora e por dentro... vontade...
Para quê esse pudor de certas palavras?...
Vontade de amar, simplesmente.
(Mario Quintana)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mário Quintana

Quem ama inventa

Quem ama inventa as coisas a que ama...
Talvez chegaste quando eu te sonhava.
Então de súbito acendeu-se a chama!
Era a brasa dormida que acordava...
E era um revôo sobre a ruinaria.
No ar atônito bimbalhavam sinos, 
Tangidos por uns anjos peregrinos
Cujo dom é fazer ressurreições...
Um ritmo divino? Oh! Simplesmente
O palpitar de nossos corações
Batendo juntos e festivamente,
Ou sozinhos, num ritmo tristonho...
Ó! meu pobre, meu grande amor distante,
Nem sabes o bem que faz à gente
Haver sonhado... e ter vivido o sonho!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mário Quintana

Dedicatória


Quem foi que disse que eu escrevo para as elites?
Quem foi que disse que eu escrevo para o bas-fond?
Eu escrevo para a Maria de Todo o Dia.
Eu escrevo para o João Cara de Pão.
Para você, que está com este jornal na mão...
E de súbito descobre que a única novidade é a poesia,
O resto não passa de crônica policial-social-política.
E os jornais sempre proclamam que a "situação é crítica"!
Mas eu escrevo é para o João e a Maria,
Que quase sempre estão em situação crítica!
E por isso as minhas palavras são quotidianas como o
pão nosso de cada dia
E a minha poesia é natural e simples como a água bebida
na concha da mão.
(Mário Quintana)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Ninguém vive sem um pouco de poesia - Mário Quintana

Remissão


Naquele dia fazia um azul tão límpido, meu Deus, que eu me sentia
perdoado para sempre não sei de que...
(Mário Quintana)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ninguém vive sem um pouco de poesia...- Mário Quintana

Meu bonde passa pelo Mercado

Meu bonde passa pelo Mercado
Mas o que há de bom mesmo não está à venda
O que há de bom não custa nada.
Este momento de euforia é a flor da eternidade.
E essa minha alegria inclui também minha tristeza
- a nossa tristeza...
Tu não sabias, meu companheiro de viagem?
Todos os bondes vão para o infinito!
(Mário Quintana)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mário Quintana

Canção do dia de sempre

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...
(Mario Quintana)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mário Quintana

Esperança


Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
(Mário Quintana)

sábado, 30 de julho de 2011

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mário Quintana

O que o vento não levou


No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:

um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha, um dia o próprio vento...
(Mario Quintana)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mário Quintana

Ah! Os relógios


Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...
(Mário Quintana)

terça-feira, 26 de abril de 2011

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mário Quintana

Pequeno poema didático


O tempo é indivisível. Dize,
qual o sentido do calendário?
Tombam as folhas e fica a árvore,
contra o vento incerto e vário.
A vida é indivisível. Mesmo
a que se julga mais dispersa.
E pertence a um eterno diálogo
a mais inconseqüente conversa.
Todos os poemas são um mesmo poema,
Todos os porres são o mesmo porre,
Não é de uma vez que se morre…
Todas as horas são horas extremas!
(Mário Quintana)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mário Quintana

A carta


Hoje encontrei dentro de um livro uma velha carta amarelecida,
Rasguei-a sem procurar ao menos saber de quem seria...
Eu tenho um medo
Horrível
A essas marés montantes do passado,
Com suas quilhas afundadas, com
Meus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas...
Ai de mim,
Ai de ti, ó velho mar profundo,
Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!
(Mário Quintana)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mário Quintana

Último poema


Enquanto me davam a extrema-unção,
Eu estava distraído...
Ah, essa mania incorrigível de estar
Pensando sempre noutra coisa!
Aliás, tudo é sempre outra coisa
- segredo da poesia –
E enquanto a voz do padre zumbia como um besouro,
Eu pensava era nos meus primeiros sapatos
Que continuavam andando, que continuam andando,
Até hoje
Pelos caminhos deste mundo.
(Mário Quintana)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mário Quintana

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos


Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como
uma pobre lanterna que incendiou!
(Mário Quintana)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mario Quintanau comum

Um céu comum

No céu vou ser recebido
com uma banda de música
Tocarão um dobradinho
daqueles que nós sabemos
- pois nada mais celestial
do que a música que um dia ouvimos
no coreto municipal
de nossa cidadezinha...
Não haverá cítaras nem liras
- quem pensam vocês que eu sou?
E os anjinhos estarão vestidos
no uniforme da banda,
com os sovacos bem suados
e os sapatos apertando.
Depois, irei tratar da vida
como eles tratam a sua...
(Mário Quintana)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mário Quintana

Recordo ainda


Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...
(Mário Quintana)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mário Quintana

Os Poemas


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
(Mario Quintana)

domingo, 8 de agosto de 2010

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mário Quintana

As mãos do meu pai

As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já de cor de terra
- como são belas as tuas mãos
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da
nobre cólera dos justos.

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza
que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços
da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los
contra o vento?

Ah! Como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das
tuas mãos!
E é, ainda, a vida que transfigura das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida – que transcende a própria vida
...e que os Anjos, um dia, chamarão de alma.
(Mario Quintana)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mário Quintana


Seiscentos e sessenta e seis

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ªfeira...
Quando se vê, passaram 60 anos!

Agora, é tarde demais para ser reprovado...

E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente...
e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
(Mário Quintana)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mário Quintana


Era um lugar

Era um lugar em que Deus ainda
Acreditava na gente…
verdade
Que se ia à missa quase só para namorar
Mais tão inocentemente
Que não passava de um jeito, um tanto
Diferente de rezar
Enquanto, do púlpito, o padre clamava
Possesso contra pecados enormes.
Meu Deus, até o Diabo envergonhava-se.
Afinal de contas, não se estava em nenhuma
Babilônia…
Era, tão só, uma cidade pequena,
Com seus pequenos vícios e suas pequenas virtudes:
Um verdadeiro descanso para a milícia dos anjos
Com suas espadas de fogo.
-Um amor!
Agora,
Aquela antiga cidadezinha está dormindo para sempre
Em sua redoma azul, em um dos museus do Céu.
(Mário Quintana)

quinta-feira, 18 de março de 2010

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mário Quintana


As cidades pequenas

As moças das cidades pequenas
com o seu sorriso e o estampado claro de seus vestidos
são a própria vida. Elas
é que alvorotam a praça. Por elas
é que os sinos festivamente batem, aos domingos.
Por elas, e não para a missa!... Mas Deus não se importa... Afinal,
só nessas cidadezinhas humildes
é que ainda o chamam de Deus Nosso Senhor.
(Mário Quintana)
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