"O mineiro é muito espectador. O mineiro é velhíssimo, é um ser reflexivo, com segundos propósitos e enrolada natureza. É uma gente imaginosa, pois que muito resistente à monotonia. É boa - porque considera este mundo como uma faisqueira, onde todos têm lugar para garimpar. Mas nunca é inocente". "O mineiro traz mais individualidade que personalidade. Acha que o importante é ser, e não parecer, não aceitando cavaleiro por argueiro, nem cobrindo os fatos com aparatos. Sabe que 'agitar-se não é agir.' Sente que a vida é feita de encoberto e imprevisto, por isso aceita o paradoxo; é um idealista prático, otimista através do pessimismo." "(O mineiro) não entra caninamente em disputas. Melhor, mesmo - não disputa. Atencioso, sua filosofia é a da cordialidade universal, sincera; mas em termos. Gregário, mas necessitando de seu tanto de solidão, e de uma área de surdina, nos contatos verdadeiramente importantes. Desconhece castas. Não tolera tiranias, sabe deslizar para fora delas. Se precisar, briga." "(O mineiro) tem memória longa. Não tem audácias visíveis. Ele escorrega para cima. Só quer o essencial, não as cascas. Sempre frequentado pelo enigma, pica o enigma em pedacinhos, como quando pica seu fumo de rolo, e faz contabilidade da metafísica; gente muito apta ao reino do céu." "(O mineiro) não acredita que coisa alguma se resolva por um gesto ou um ato, mas aprendeu que as coisas voltam, que a vida dá muitas voltas, que tudo pode tornar a voltar. Até sem saber o que faz, o mineiro está sempre pegando com Deus." (Texto de Guimarães Rosa; "Aí está Minas, a mineiridade." Revista Manchete de 25/08/57)
quarta-feira, 28 de abril de 2010
Pátria Minas - Aí está Minas, a mineiridade
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