O doente do século
Meu coração
vai sangrando,
Se
desfazendo aos pedaços,
Mas assim
mesmo inda tem
Uns
pedacinhos de pedra
Que resistem
duramente:
A pedra
resiste ao vento
De aridez,
que vai passando,
Vem rolando,
traiçoeiro,
Dos desertos
da cabeça.
O vento
insinua então:
“Siga firme
para a frente,
Deixe a luz
à sua direita,
Tome o rumo
de Moscou,
Se inebrie
com este coro
Que sai
vibrante das máquinas,
Fuzile a
palavra amém.”
Mas quem sou
eu neste mundo
Pra anular a
tradição?
Venham,
filhas da esperança,
Me levem na
padiola
Para o chalé
da ternura,
Acendam-me a
luz do amor,
Desenrolem
seus cabelos
Sobre o meu
corpo, senão
Não terei
culpa nenhuma
Se me matar
amanhã.
(Murilo
Mendes)
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