sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Mario Benedetti

Balada do mau gênio


Tem dias que sinto um desinteresse
de mim, de ti, de tudo o que insiste em acreditar-se
e me sinto solidariamente cretino
apto para que em mim vacilem os rancores
e nada me pareça um aceitável presságio.

Dias em que abro o jornal com o coração na boca
como se aguardasse com certeza que meu nome
fosse aparecer nos avisos fúnebres
seguido da lista de parentes e amigos
e de todo o indócil pessoal às minhas ordens.

Tem dias que nem sequer são escuros
dias em que perco o rastro da minha pena
e resolvo as palavras cruzadas
com uma raiva feita para outra ocasião
digamos, por exemplo, para as noites de insônia.

Dias em que a gente sabe que há muito era bom
bem talvez não faz tanto que aparecia a lua
limpa como depois de um sabonete perfumado
e aquilo sim era autêntica melancolia
e não esse insano, doce tédio.
Bem, esta balada é só para te avisar
que nesses poucos dias não me leves a serio.
(Mario Benedetti)

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