Reinauguração
Entre
o gasto dezembro e o florido janeiro,
entre
a desmistificação e a expectativa,
tornamos
a acreditar, a ser bons meninos,
e
como bons meninos reclamamos
a
graça dos presentes coloridos.
Nessa
idade - velho ou moço - pouco importa.
Importa
é nos sentirmos vivos
e
alvoroçados mais uma vez, e revestidos de beleza,
a
exata beleza que vem dos gestos espontâneos
e
do profundo instinto de subsistir
enquanto
as coisas em redor se derretem e somem
como
nuvens errantes no universo estável.
Prosseguimos.
Reinauguramos. Abrimos olhos gulosos
a
um sol diferente que nos acorda para os descobrimentos.
Esta
é a magia do tempo.
Esta
é a colheita particular
que
se exprime no cálido abraço e no beijo comungante,
no
acreditar na vida e na doação de vivê-la
em
perpétua procura e perpétua criação.
E
já não somos apenas finitos e sós.
Somos
uma fraternidade, um território, um país
que
começa outra vez no canto do galo de 1º de janeiro
e
desenvolve na luz o seu frágil projeto de felicidade.
(Carlos
Drummond de Andrade)
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