Desindustrialização passa longe do Vale da Eletrônica
Santa Rita do Sapucaí. Uma combinação entre a enxurrada de importados asiáticos, a valorização do real frente ao dólar e a alta carga tributária tem sido apontada como receita infalível para a desindustrialização do país. Mas esse cenário não se aplica a todos. Mesmo com crise internacional e com câmbio desvalorizado, as indústrias do Vale da Eletrônica, em Santa Rita do Sapucaí, região Sul de Minas, tiveram crescimento no faturamento e nas exportações em 2011.
As exportações das empresas da região passaram de R$ 27 milhões, em 2008, para R$ 40 milhões, em 2011, crescimento de 48%. Na pauta, nada de grãos ou minerais, mas produtos de automação, equipamentos para radiodifusão, energia, telecomunicações e segurança eletrônica. Tudo com alto valor agregado e alta tecnologia aplicada. "A meta é aumentar em 25% o faturamento com exportações em 2012", diz o presidente do sindicato das empresas do Vale, Roberto de Souza Pinto.
Ele conta que as 142 empresas sindicalizadas são integrantes do Projeto Setorial Integrado (PSI), iniciativa da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) e recebem apoio nos processos de certificação, pesquisa, prospecções de mercado, missões empresariais, feiras e eventos.
"Meu maior desafio é globalizar a minha marca", diz o diretor de desenvolvimento da Sense, fabricante de sensores, Sérgio Augusto Berttoni. Do faturamento anual de R$ 60 milhões, 10% vêm das exportações.
Questionado sobre o impacto negativo da desvalorização do dólar, Bertonni respondeu de forma surpreendente. "Nenhum. Importamos vários componentes que não são fabricados no Brasil. Com o dólar baixo, importamos mais. Com o dólar alto, ganhamos na venda. Uma coisa compensa a outra". Ele diz que, como a empresa concorre com "gigantes multinacionais", o desafio é fortalecer a sua marca. "Ainda assim conseguimos ser competitivos, porque temos muito mais flexibilidade e agilidade para pensar novos processos e novos produtos, o que se faz lentamente em uma empresa grande".
O diretor de relações institucionais da Hitachi Kaokusai Linear, Carlos Frutuoso, diz que as mesmas características que dificultam a atuação da sua empresa, única fabricante brasileira de transmissores de TV Digital, também garantem seu sucesso. "Nem os chineses concorrem conosco, porque não é um mercado com demanda grande. Há meses em que fazemos uma única venda de R$ 2 milhões para um cliente. Não há produção em massa", explica. "Nenhum fabricante chinês iria vender uma peça no interior do Mato Grosso como fazemos. É um trabalho difícil, mas não temos concorrência", diz. A empresa, fundada em Santa Rita do Sapucaí na década de 1980, foi visitada em 2008 pelos japoneses da Hitachi. No ano passado, a multinacional comprou a Linear por cerca de US$ 13 milhões. Hoje, 80% da produção da empresa é voltada para a exportação.
MINIENTREVISTA com Roberto S. Pinto – Presidente do Sindvel
"Ninguém compra tecnologia pelo preço"
Como explicar o crescimento da exportação em Santa Rita do Sapucaí enquanto ela tem caído em todo o país?
Temos alguns diferenciais importantes. Ninguém compra o produto de tecnologia pelo preço. A maioria dos produtos exportados aqui na região tem fabricação sob encomenda. A gente não ganha na escala, ganha na inovação e no atendimento.
A China e o câmbio também são vilões da indústria local?
Não. A China se preocupa com volume de produção. Temos muitos produtos de baixíssima demanda que nem outras empresas brasileiras têm interesse em produzir. Trabalhamos sob encomenda. Sobre o dólar, uma média de 40% dos nossos insumos são importados. Quanto mais baixo o dólar, mais barato nosso insumo. Na venda, como eu falei, o preço não é o mais importante. Conseguimos competir pela qualidade.
Se você pudesse fazer um pedido para a presidente Dilma, qual seria?
Precisamos de mais acesso a crédito. Nossos empreendedores são jovens e não têm patrimônio para capital de giro ou para avalizar empréstimos. A única garantia que eles podem dar é o plano de negócios das futuras empresas. Seria ótimo um financiamento menos burocrático.
(Pedro Grossi – O Tempo em 26/03/2012)
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