"O meu é o reino das palavras: aqui tudo pode ser dito — a cada um cabe inventar os significados, interpretar as charadas, preencher os silêncios.
Este é o lugar do impalpável que a muitos incomoda: são os que fecham meus livros sem ler, sacodem a cabeça — e não entenderão.
Porque eu falo para os da minha raça: os que além de racionais são também ilógicos, os bem estabelecidos que amam o imprevisível, os que na margem concreta enxergam mais do que isso e não têm com quem o partilhar.
Por isso atuam nos palcos ou nos computadores ou nos ateliês, ou simplesmente vagam alertas por sua casa quando os outros ancoraram no sono.
Sentindo-se guerreira ou mendiga, insuficiente ou esplêndida, esta que escreve não sou eu, mas algo que transborda dos meus contornos como o mar transbordava de uma concha naquela mão, na infância dourada.
E minha alma, esse cavalo alado, inocente menina ou feiticeira perversa, fará deste novelo de caos e luz o seu porto de partida, num sopro desenrolando infinitamente o nome que é todos os nomes e é minha alegria: Vidaminhavidaminhavidaminha..."
(Lya Luft em “Mar de dentro”)
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