terça-feira, 22 de maio de 2012

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Adélia Prado

Macieiras

Era um quintal ensombrado, murado alto de pedras. 
As macieiras tinham maçãs temporãs, a casca vermelha
de escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas
fora do seu tempo desejadas. 
Ao longo do muro eram talhas de barro. 
Eu comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo
que lá fora o mundo havia parado de calor. 
Depois encontrei meu pai, que me fez festa
e não estava doente e nem tinha morrido, por isso ria, 
os lábios de novo e a cara circulados de sangue, 
caçava o que fazer pra gastar sua alegria: 
onde está meu formão, minha vara de pescar, 
cadê minha binga, meu vidro de café? 
Eu sempre sonho que uma coisa gera, 
nunca nada está morto. 
O que não parece vivo, aduba. 
O que parece estático, espera. 
(Adélia Prado)

2 comentários:

  1. Maravilhosa Adélia Prado,
    sempre brejeira!

    Muito lindo, Nidia.
    Um abraço,
    da Lúcia

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Isso mesmo Lúcia, Também acho as poesias da Adélia brejeiras. Ela retrata como ninguém o cotidiano com uma beleza sem igual. Beijos.

      Excluir

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