“Será o Benedito?”, é uma expressão de espanto diante de determinada situação, que todos nós usamos constantemente, muitas vezes quando alguma coisa que precisamos não acontece.
Para mostrar espanto diante de uma situação inesperada e muito pouco provável, costumamos recorrer ao tal Benedito. A mais provável origem dessa curiosa expressão é digna de um típico “causo” mineiro e estaria ligada ao ex-governador do estado, Benedito Valadares.
Em 1930, João Pessoa, candidato à vice-presidência na chapa de Getúlio Vargas, foi assassinado por razões pessoais. A eleição ocorreu e saiu vencedor Júlio Prestes, fato não aceito por Getúlio, alegando fraude na eleição, chegando a um movimento que impediu a posse do eleito.
Após a Revolução de 1930, Getúlio Vargas assumiu o governo provisório do país. Com a suspensão da Constituição de 1891 e Congresso Nacional e assembléias estaduais fechadas, gozava de plenos poderes, entre eles, a indicação dos interventores estaduais.
Com a morte de Olegário Maciel, em setembro de 1933, Vargas precisava definir o novo interventor de Minas Gerais. “Havia, entre seus aliados, dois homens fortes que pressionavam por suas indicações”, afirma o professor de história do Brasil da Universidade Federal Fluminense, Jorge Ferreira. “Um era o ministro da Fazenda Osvaldo Aranha, que indicava Virgílio Melo Franco, que ainda tinha o apoio do pai, Afrânio de Melo Franco, ministro das Relações Exteriores. O outro era Flores da Cunha, interventor do Rio Grande do Sul, que apoiava Gustavo Capanema.”
Assim, previa-se que um dos dois fosse indicado. Mas, para a surpresa de todos, Vargas escolheu Benedito Valadares, político mineiro de pouco destaque que havia apoiado sua candidatura em 1930.
Valadares foi nomeado interventor em 12 de dezembro de 1933 e, nos meios políticos da época, foi tão conhecido quanto sua expressão é entre os falantes. Era considerado uma raposa, cuja esperteza, descreveu em suas memórias, só era superada pelo próprio Getulio.
Entre seus feitos, indicou Juscelino Kubitschek para a chefia da Casa Civil de Minas Gerais e, depois, para a prefeitura de Belo Horizonte. Além de lançar o que foi um dos mais importantes presidentes brasileiros, o Benedito da expressão também virou cidade: é em sua homenagem que foi nomeado o município de Governador Valadares.
Ferreira conta que a surpresa teria sido tão grande que a própria mãe de Valadares teria exclamado: “Será o Benedito?”. Assim, a expressão teria caído no gosto do povo e no folclore político.
Mas por que o presidente fez isso? Ferreira explica: “Primeiro porque, nomeando alguém sem grande expressão na política regional, Vargas teria maior controle sobre o interventor e sobre o quadro político do estado. Segundo, porque esse era seu estilo: arbitrar conflitos, mediar interesses e conciliar disputas”. Não deu outra: Valadares manteve-se fiel. Em 1935, foi eleito governador constitucional de Minas e permaneceu no posto até 1945, quando Vargas foi deposto.
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