Uma ode à música brega
1) Sandra Rosa Madalena, de Sidney Magal: um Raul Seixas diluído em propaganda de xampu. Quando a pieguice inventa de ser filosofante: 'Queria ser o seu princípio e ser seu fim'. Brega total. Para cantar no engarrafamento de SP.
2) Borbulhas de Amor, de Fagner: campeão do karaokê, talvez pelo beicinho no momento de cantar o refrão do peixe. Para nadar, nadar e morrer na praia.
3) No Hospital, de Amado Batista: legítimo representante do amor dodói, coitadismo em estado puro. Traz a viuvez como prova de que o macho pode ser fiel. Para cantar na fila da Previdência.
4) Pare de Tomar a Pílula, de Odair José: o terror das empregadas é um injustiçado, merecia bem mais crítica. Um grito do varão preguiçoso, que não deseja nem se mexer para colocar camisinha. Para cantar na Vara de Família no momento de acertar a pensão.
5) Garçom, de Reginaldo Rossi: é um hit engraçado, com uma nostalgia ébria dos anos 50. Uma homenagem ao terapeuta mais barato do mundo, que somente cobra 10% para escutar nossas lamúrias. Para cantar ao pedir a conta.
6) Macarena, de Los del Río: é a típica música-enjoada, de brinquedo de criança. Ninguém sabe a letra e vai enrolando. O importante é a coreografia. Foi responsável por mais da metade das broxadas no final dos anos 90. Quase entrou como um extra ocidental do Kama Sutra.
7) Como uma Deusa, de Rosana: é a nossa Celine Dion, é o nosso Titanic. Depois dela, muitas mulheres abandonaram o Olimpo, aceitaram a celulite e desistiram de imitar a Vera Fischer. Para cantar no velório.
8) I Will Survive, de Gloria Gaynor: conhecida como clássica música GLS. Todo homem que se preza deve enfrentar o teste. Se dançar é gay. Se não dançar é gay. Praticamente impossível não rebolar e mexer os braços. Um desabafo escrachado para viver o amor sem nenhuma vergonha.
9) Pelados em Santos, de Mamonas Assassinas: irreverência nunca tem medida certa. Virou hit da torcida do meu time. Não há como ser elegante no estádio. Para cantar levantando o caneco.
10) Purple Rain, do Prince: marcou toda a minha geração. Nas reuniões dançantes, era o golpe derradeiro para beijar o pescoço da menina. Ela ficava tão paralisada com a breguice que não reclamava. Para cantar no asilo.
11) Can’t Stop Loving You, de Van Halen: banda formada no ano em que nasci, coisa boa não é. Canção que nasceu para trilha internacional de novela, dor-de-cotovelo e choro no escuro. Para cantar após descobrir que sua mulher tinha um caso com o porteiro.
12) A Lua me Traiu, de Calypso: essa vale por todas as anteriores e ainda sobra. Para nunca cantar.
(Carpinejar - Publicado no jornal O Estado de São Paulo em 04/09/2010)
Do Blog
Impossível dormir com a festa que rola na casa ao lado da minha. Já estava prevendo que ia ser triste, porque à tarde tocaram o interfone para pedir que tivéssemos um pouco de paciência com o que ainda ia acontecer à noite. Essa semana tinha lido esse texto do Carpinejar e quando tocou Macarena resolvi verificar a autenticidade da lista. Vamos lá:
1) Sandra Rosa Madalena, mais de uma vez e ainda por cima acompanhada de "O meu sangue ferve por você".
2) Borbulhas de Amor, ainda não entraram na fase romântica. Espero que a festa termine antes dessa fase.
3) No Hospital, ainda não, apesar do vizinho, dono da festa, ser médico.
4) Pare de Tomar a Pílula, ainda não. Graças a Deus.
5) Garçom, claro que sim.
6) Macarena, mais de uma vez. Fico até imaginando a coreografia dos convidados.
7) Como uma Deusa, no último volume.
8) I Will Survive, com plumas, paetês e trejeitos.
9) Pelados em Santos, esqueceram dos pobrezinhos, mas em compensação teve "Não se reprima" com os Menudos.
10) Purple Rain, não devem gostar do Prince.
11) Can’t Stop Loving You, tive que entrar no Youtube para conhecer. Acho que eles também não conhecem.
12) A Lua me Traiu, de Calypso: também fui ver o que era. Como pode? É breguice em dose cavalar. A cantora canta mal, dança mal e consegue se vestir pior ainda.
E ainda teve Adocica, Ursinho Blau-blau, Fuscão Preto e outras “cositas” mais.
Agora está tocando uma música tão barulhenta que já estou ficando com saudade das bregas.
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