quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Fernando Pessoaa aldeia


O rio da minha aldeia

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.


Fernando Pessoa - Alberto Caeiro

Um comentário:

  1. Lindo demais, acho que Pessoa foi realmente muito feliz em escrever essa poesia.
    E agora que estou longe me faz ainda mais sentido...o meu Tejo, o rio que corre pela minha aldeiazinha... apesar de encontrar uma associação e um sentido diferente, tampouco "aquáticos", a cada dia que leio esses versos.

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