Sou do tempo em que se usava fazer “footing” na praça. As meninas ficavam dando voltas, geralmente em grupo de três, pelo lado mais interno da praça e os rapazes pelo lado externo, em sentido contrário. Era assim: as mulheres na mão e os homens na contramão. Quando se cruzavam, lançavam olhares apaixonados, o coração disparava e o rosto corava.
No coreto, havia um serviço de som para enviar músicas, tipo correio elegante musical. Muitas vezes o locutor dizia:
_ Alguém oferece a alguém, só esse alguém sabe quem.
E tocava uma música da moda, que todas nós gostávamos e cada uma ficava se achando a recebedora da homenagem tão especial.
Nesse tempo tão bom, havia um rapaz chamado por todos de “Hélio do ataque”. Era um rapaz com algum problema de cabeça. Os meninos davam algum dinheiro para ele e indicavam as vítimas que deveriam sofrer o ataque. Ele se aproximava, dava um grito apavorante, sacudindo as mãos e fazendo caretas. Eram garotas correndo desesperadas para todos os lados e os meninos dando gostosas risadas. Também fui, várias vezes, alvo dessa brincadeira desagradável.
Um dia, não corri e resolvi contra-atacar. Quando o Hélio deu seu ataque costumeiro, olhei bem para ele, emiti um grito estridente, balancei as mãos desordenadamente e fiz mil caretas. Ele ficou sem reação.
Depois disso, nunca mais ele aceitou dar susto em mim. Mas a minha maior vitória foi, nesse dia, ter conseguido preservar o salto do meu primeiro sapato de mocinha.
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