quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Preservar é moderno - Capela centenária é restaurada no Sul de Minas


BELO HORIZONTE - Uma capela centenária da cidade de Passos, no Sul de Minas Gerais, foi totalmente restaurada e voltou a ostentar suas características originais, datadas de sua construção, entre os anos de 1863 e 1864. A capela havia sido erguida pelo casal Antônio Caetano de Faria Loulou e Maria Pimenta Abreu. Em dificuldades, eles apelaram para a devoção a Nossa Senhora da Penha, e se alcançassem a graça tão almejada, ergueriam o templo em louvor à santa.
Segundo estudos da historiadora Andréia Maria Kallas El Harati, a capela foi inaugurada em setembro de 1867. O formato octogonal da nave é um dos poucos existentes na América Latina e sua estrutura apresenta traços coloniais. Escadas laterais dão acesso aos corredores superiores e ao coro. Mas recuperar o patrimônio da capelinha foi mais difícil do que no início aparentava ser.
A obra começou em junho de 2007, durou dois anos, dois meses e 25 dias e foi um desafio para o arquiteto André Luiz Nery Figueiredo, responsável pelo projeto. A falta de documentação histórica e as constantes intervenções feitas sem nenhum critério ao longo do tempo, a princípio, acabaram comprometendo os trabalhos. Em 1982, a capelinha passou pela última reforma, que, segundo o levantamento feito pelo arquiteto, também foi a responsável pela maior descaracterização do prédio, onde foram substituídos o retábulo e o piso.
Mas essas dificuldades foram superadas devido aos estudos in loco, prospecções e à contribuição da comunidade. Algumas das características originais foram recompostas baseadas em vestígios encontrados na própria capela, como um pedaço de piso que estava na sacristia, que serviu de base para a reconstituição de todo o ladrilho hidráulico. O fragmento tinha o mesmo desenho da nave da igreja.
Foi necessário trocar todos os pilares, as vigas, treliças e os caibros em madeira, já que a ação de cupins e fungos havia comprometido toda a sustentação do templo. Parte da madeira danificada, retirada da fundação, pode ser vista do lado de fora da capela porque ela foi usada na ornamentação de seus jardins.
O amarelo-claro e os acabamentos em azul e branco também voltaram a predominar, trazendo mais luz para o interior da capelinha. O altar recebeu um tratamento mais que especial. A madeira envernizada colocada na década de 1980 deu lugar ao espaço original e a reconstituição das molduras douradas levou 11 meses de trabalho até ficarem prontas.
O processo teve início baseado em análise das peças e do material histórico. Para o douramento das molduras foi utilizada uma técnica que se resume a aplicação de uma fina folha de ouro de 22 ou 23 quilates sobre a madeira. Só depois de impermeabilizada é que o suporte recebe o ouro. O resultado é um brilho intenso e uniforme, que seduz os olhares de quem quer que o observe. Além disso, a mesa do altar foi aproximada dos fiéis para tornar as cerimônias mais participativas.
A Capelinha da Penha, como é chamada pelos passenses, também ganhou proteção em sua área externa. Antes da mureta original foram instaladas grades para inibir a ação de vândalos. Segundo seu Darci, as pessoas não se importavam em ficar sentadas na mureta, danificando o conjunto da obra. O projeto das grades sofreu grandes críticas, mas foi aceito por se tratar da segurança do patrimônio histórico.
Antes da reinauguração da igrejinha em 31 de agosto de 2009, algumas medidas para a sua preservação foram tomadas. Entre elas, a criação do grupo "Guardiões", que sob a responsabilidade da Irmandade de Nossa Senhora, ficou com a tarefa de zelar pelo prédio e manter viva a devoção à padroeira.
As regras adotadas pela Irmandade incluem desde o horário de funcionamento do prédio até o modo como ele deve ser limpo. Fotos em seu interior podem ser feitas, mas o uso de flashes e refletores são proibidos.
O grupo dos guardiões é formado por voluntários atuantes na comunidade, que se revezam durante o horário de abertura à visitação. Devidamente identificados com crachás, os guardiões recebem e orientam os visitantes durante as passagens pela capela. Eles se reúnem bimestralmente para tomar decisões registradas em um livro para guardar a memória do templo e, que, futuramente, servirá como documento histórico para as novas gerações.
(EPTV em 17/02/2010)

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