do que devia
são um perigo
as palavras
quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer e o esquecimento acredita
é a mais lenta das feridas mortais
espalha-se insidiosamente pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada
e de repente acordamos um dia
desprevenidos e completamente
indefesos
um perigo
as palavras
mesmo agora
aparentemente tão tranquilas
neste claro momento em que as deixo em desalinho
sacudindo o pó dos velhos dias
sobre a cama em que te espero
(Alice Vieira)
Alice Vieira nasceu em 1943 em Lisboa. É licenciada em Germânicas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Em 1958 iniciou a sua colaboração no Suplemento Juvenil do Diário de Lisboa e a partir de 1969 dedicou-se ao jornalismo profissional. Desde 1979 tem vindo a publicar regularmente livros tendo, atualmente editados na Caminho, cerca de três dezenas de títulos.
Recebeu em 1979, o Premio de Literatura Infantil Ano Internacional da Criança com Rosa, Minha Irmã Rosa e, em 1983 com Este Rei que Eu Escolhi, o Premio Calouste Gulbenkian de Literatura Infantil e em 1994 o Grande Premio Gulbenkian, pelo conjunto da sua obra. Recentemente foi indicada pela Secção Portuguesa do IBBY (International Board on Books for Young People) como candidata portuguesa ao Premio Hans Christian Andersen. Trata-se do mais importante premio internacional no campo da literatura para crianças e jovens, atribuído a um autor vivo pelo conjunto da sua obra.
Alice Vieira é hoje uma das mais importantes escritoras portuguesas para jovens, tendo ganho grande projeção nacional e internacional. Várias das suas obras foram editadas no estrangeiro.
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