A Árvore
Repara no meu rosto e medea profundidade das minhas rugas.
Observa de perto o meu cabelo branco
e passa os dedos pelas minhas cicatrizes.
Tudo isso é a árvore que eu sou.
Da copa inatingível e secreta
até ao abismo das fundas raízes.
Se me falares baixinho
lembrarei as suaves brisas de Outono e desprenderei
abraços dos meus ramos em folhas sedosas
para te atapetar o caminho.
Se um dia te cansares de mim
corta-me. Serra-me ao meio. Arde-me.
Mas peço-te meu amor
aproveitando este vento da tarde:
nunca na vida me deixes sozinho.
A solidão secar-me-ia de dor.
(José António Gonçalves)
José António Gonçalves (Funchal, Madeira, 1954-2005). Jornalista profissional, revelou-se como autor em "O Poeta Faz-se aos Dez Anos", de Maria Alberta Menéres (Assírio & Alvim, 1973) e no "Movimento – Cadernos de Poesia & Crítica", com Eugénio de Andrade, António Ramos Rosa, Pedro Támen, José Bento, A. J. Vieira de Freitas, José Agostinho Baptista e Gualdino Avelino Rodrigues (número único, 1973), publicando de seguida o seu primeiro livro, "Réstea de Qualquer Coisa" (Crónicas, 1973).
Colaborador literário da imprensa, rádio, televisão (o seu tele-dramático "Ora... O Mar", realizado por Paulo Valente, conquistou, para a RTP-M, o Prémio «Açor de Bronze», no MAT-Festival Internacional de Televisão, Horta, Açores, 1988), escrevendo ainda para o cinema (documentários) e teatro.
Está traduzido para algumas línguas, entre as quais o italiano e o russo e integrado em antologias nacionais e estrangeiras.
Colaborador literário da imprensa, rádio, televisão (o seu tele-dramático "Ora... O Mar", realizado por Paulo Valente, conquistou, para a RTP-M, o Prémio «Açor de Bronze», no MAT-Festival Internacional de Televisão, Horta, Açores, 1988), escrevendo ainda para o cinema (documentários) e teatro.
Está traduzido para algumas línguas, entre as quais o italiano e o russo e integrado em antologias nacionais e estrangeiras.
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