sexta-feira, 18 de junho de 2010

Ninguém vive sem um pouco de poesia...- Andrés Eloy BlancoSilêncio

Silêncio


Quando tu ficares muda
e eu ficar cego,
restam-nos as mãos
e o silêncio.

Quando tu envelheceres,
e eu envelhecer,
restam-nos os lábios
e o silêncio.

Quando tu morreres,
e eu também morrer,
têm de enterrar-nos juntos
e em silêncio;

e quando tu ressuscitares,
quando eu tornar a viver,
voltaremos a amar-nos
em silêncio;

e quando tudo acabar
para sempre no universo,
há-de ser um silêncio de amor
o silêncio.
(Andrés Eloy Blanco)

Andrés Eloy Blanco nasceu em Cumaná, em 1897. Aos 8 anos, sua família é confinada em Margarita por desavenças com o governo de Cipriano Castro. Já no mandato de Juan Vicente Gómez, regressa a Cumaná e depois se muda para Caracas.
Desde muito jovem destaca-se como poeta e assim é consagrado pelos companheiros e professores. Em 1918 é agraciado com a "flor natural" nos Jogos Florais com Canto a Espiga e ao Arado. Também nesse ano publica El Huerto de la Epopeya (drama em verso) e é preso por participar de manifestações estudantis.
Em 1923, viaja para a Europa para receber o Primeiro Prêmio nos Jogos Florais de Santander e acaba ficando na Europa por mais de um ano, onde conhece os movimentos de vanguarda da época.
Em 1928, começa a editar no jornal El Imparcial, que circula às escondidas e se vincula a organizações clandestinas como USCA (União Social Construtiva Americana) e FAR (Frente de Ação Revolucionária). Como orador político e literário, cativa as multidões venezuelanas dos anos 30 e 40. Apaixonado por seu povo, intervém ativamente na vida política em oposição ao regime do ditador Juan Vicente Gómez.
Em 1937, funda o Partido Democrático Nacional e ingressa no Congresso Nacional como deputado de oposição e passa a envolver-se completamente na política, sendo também um dos fundadores do partido Ação Democrática. Trabalha em torno da candidatura de Rómulo Gallegos (1941).
Em 1944, preside a Assembléia Nacional Constituinte, convocada para a reforma da "Carta Fundamental" e, em 1948, o então presidente Rômulo Gallegos o designa ministro de Relações Exteriores. Depois da derrota de Gallegos, uma Junta Governamental, presidida pelo tenente-coronel Carlos Delegado Chalbaud, dissolve o Ação Democrática, e o poeta e sua família saem da Venezuela para Cuba e logo para o México. Distante da briga política, Andrés Eloy Blanco volta a escrever, mas no dia 21 de maio de 1955 falece tragicamente na Cidade do México, vítima de um acidente de trânsito.

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