segunda-feira, 20 de junho de 2011

De onde vem? - Pé-rapado

Pé-rapado

Os dicionários esclarecem que o substantivo pé-rapado se trata de um brasileirismo cujo significado é o de indivíduo pobretão, de condição humilde, mas também dão a ele, por extensão, o sentido de pessoa sem caráter, de más qualidades, crápula e vagabundo. No entanto, a origem dessa expressão pode ser explicada de algumas formas diferentes: na primeira, a suposição é de que tenha sido criada na segunda metade do século 17 porque o poeta baiano Gregório de Matos Guerra (1633-1696) a utilizou em versos dirigidos a Anica, mulata por quem ele se interessava para determinados fins, e que lhe pedira dinheiro para comprar sapatos:
Se tens o cruzado, Anica, / manda tirar os sapatos, / e se não, lembre-te o tempo, / que andaste de pé rapado.
A segunda versão está ligada à Guerra dos Mascates, conflito surgido entre as vilas de Olinda e Recife, em Pernambuco, nos começos do século 18 (1710), provocado pelas desavenças e divergências de opiniões e interesses entre a aristocracia pernambucana que demonstrava aversão aos estrangeiros (nativismo), e os portugueses, na sua maioria comerciantes, aos quais os primeiros chamavam desdenhosamente de mascates. O conflito começou quando Recife foi elevada a vila, e o governador da colônia pernambucana, Sebastião de Castro Caldas, que se posicionara ao lado dos comerciantes, começou a proceder as delimitações com Olinda. Houve protestos que redundaram em prisões, o governador acabou sendo ferido por disparo de arma de fogo e por isso proibiu o seu uso pela população, e a consequência desse desencontro foi o início do motim em 5 de novembro daquele ano, cujo final só viria a acontecer em 1714. Durante o transcurso dessa revolta, os portugueses passaram a tratar seus adversários pelo apelido de pé-rapado porque, segundo o folclorista Luis da Câmara Cascudo, "os que compunham as tropas da aristocracia rural combatiam sem sapatos, ao contrário da cavalaria, arma nobre de gente de botas".
Já o professor Deonísio da Silva, em “De Onde Vem as Palavras II”, opina que “no Brasil colonial, pés-rapados eram os trabalhadores que produziam riqueza nas lavouras e nas minas. Com seu trabalho, o rei português dom João V (1689-1750) enchia as burras monárquicas de ouro e diamantes vindos do Brasil. Gastou fortunas em doações a ordens religiosas e foi gigantesco o esbanjamento que garantiu a vida luxuosa da corte, a ponto de o seu reino tornar-se a maior nação importadora europeia. Mas erigiu também museus, hospitais e a Casa da Moeda, além de providenciar a canalização do rio Tejo. Tudo pago pelos pés-rapados brasileiros”.
Já Reinaldo Pimenta, em “A Casa da Mãe Joana”, explica que “pé-rapado é o João Ninguém que nem sapato tem”. Depois de muito caminhar descalço, ele rapa (ra-par, no caso, é o mesmo que raspar) o pé com uma faca para retirar o grosso da sujeira, já que de nada adianta lavar o que, em seguida, vai se sujar.
(Fonte: Fernando Kitzinger Dannemann)

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