Casal de Vespasiano comemora 80 anos de casamento
Familiares destacam respeito como o alicerce do casamento
(Maria Tereza Correira – Estado de Minas)
Oitenta anos de casamento com amor, companheirismo, amizade e respeito. São oito décadas também de convivência diária, dormindo e acordando juntos para formar uma família com 11 filhos, 32 netos, 28 bisnetos e uma trineta. Este mês, o casal José Lopes do Couto, de 101 anos, e Maria Cândida de Jesus, de 96, comemora bodas de carvalho – árvore símbolo da força e que resiste bravamente aos ventos e às intempéries das montanhas. A data foi celebrada dia 11, véspera do Dia dos Namorados, quando os dois reuniram toda a prole no sítio em que vivem, em Vespasiano, na Grande BH, para renovar os votos de afeto e felicidade feitos em junho de 1931.
Mas a paixão que une o casal é ainda mais antiga que os 80 anos de casamento. A história de amor à primeira vista começou em 1928, quando os dois se encontraram à beira de um lago, numa fazenda em Dores do Indaiá, na Região Centro-Oeste de Minas. Na época com 13 anos, Candinha, como Maria Cândida é carinhosamente chamada, lavava roupas com amigas e irmãs quando foi vista pelo boiadeiro José do Couto, então com 18 anos, que cavalgava no local. “Ela usava um lindo vestido amarelo, com a cintura bem marcada, e não me esqueço do cabelo preto, que descia escorrido pelas costas. Naquela hora pensei: essa menina vai ser minha”, relembra ele, com brilhos nos olhos e um sorriso fácil estampado no rosto.
No dia seguinte ao encontro, José do Couto criou coragem, arreou novamente o cavalo e voltou à fazenda para pedir a moça em namoro. Depois de muita conversa, os pais de Candinha aceitaram o genro, mas ela conta que não deram moleza. “Minha família quis conhecer a dele pessoalmente antes de assumirmos o compromisso. A gente namorava, mas não podia nem pegar na mão um do outro. Só podíamos nos olhar, porque se ele me tocasse levava um tiro do meu pai.” Tanta rigidez não impediu que o amor e a cumplicidade conquistassem espaço no coração dos dois jovens.
Em 10 de junho de 1931, eles se casaram na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores, em Dores do Indaiá, e uma comitiva com mais de 100 cavaleiros acompanhou os noivos da igreja à fazenda dos pais de Candinha, onde a festança animou a noite. “Ela estava bonita de fazer chorar. O cabelo preso num coque e um vestido de luxo. Meu terno foi feito por um alfaiate de Bom Despacho e enviado para Dores de trem. Como a encomenda chegou em cima da hora, não tive tempo nem de tomar banho antes do casamento. Vesti aquela roupa chique mesmo com o corpo todo suado e empoeirado da estrada de terra, porque não podia me atrasar para o casamento”, conta José do Couto.
Dois anos mais tarde, eles adotaram a primeira filha, Conceição. E, em junho de 1939, depois de uma complicada gravidez, nasceu Elza. Os outros nove filhos vieram ao longo das décadas de 1940 e 1950 e as dificuldades financeiras obrigaram José do Couto a deixar a vida de boiadeiro e mudar de profissão. Como seleiro – fabricante de selas e arreios para cavalos –, ele se mudou com a família para Belo Horizonte, onde a mulher se fixou também como costureira e doceira. Dos duros tempos da fazenda em Dores do Indaiá até a vida mansa e pacata de hoje no sítio de Vespasiano são quase 30 mil dias de convivência e muitas histórias construídas juntos. As mãos enrugadas e os rostos marcados pelo passar impiedoso do tempo são testemunhas de uma vida difícil, mas muito feliz e orgulhosamente compartilhada com os 72 descendentes.
União sustentada pela paciência
Qual o segredo para tantos anos de convivência e felicidades juntos? A resposta de Maria Cândida se resume numa única frase: “Amor e muita paciência.” Já José do Couto, bem mais falante que a mulher, garante que “a união do casal se sustenta com o amor espiritual, porque o carnal não segura ninguém”. Os filhos do casal aplaudem o sentimentalismo dos pais, mas lembram que a história de amor deles sempre foi muito bem apimentada também pelos prazeres físicos.
“Eles tiveram uma vida sexual muito ativa. Sempre contam que faziam amor todos os dias e, até hoje, quando os surpreendemos à noite no quarto, já debaixo dos cobertores, eles estão sempre abraçados, de mãos dadas e fazendo carinhos. Eles vivem apaixonados até hoje. Acho que são eternos namorados que ainda sentem ciúmes, discutem a relação e estão sempre cuidando um do outro”, conta, emocionada, a filha Maria de Lourdes Couto Rocha, de 69 anos, que prepara agora um livro sobre as bodas de carvalho dos pais.
Nas páginas cuidadosamente escritas por Lourdes não há de faltar espaço para o que os filhos entendem como o verdadeiro “alicerce” do casal: o respeito. Segundo os filhos, José do Couto e Candinha têm personalidades e estilos de vida muito diferentes – quase antagônicos –, mas nunca se impuseram ou tentaram mudar o outro. “Meu pai é um aventureiro, que gosta de curtir a vida com uma boa pinga e um carteado. Já minha mãe sempre foi pé no chão e responsável. Apesar das diferenças, eles se respeitam e se completam”, afirma a filha Lêda Maria Couto Silva, de 65.
(Fonte: Glória Tupinambás – Estado de Minas em 20/06/2011
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