Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.
Meu coração é o mendigo mais faminto da rua mais miserável.
Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d´água. Olhando assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, O Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável. (Caio Fernando Abreu em “Pequenas epifanias”)
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