Minas Gerais lança fornada tecnológica
Santa Rita do Sapucaí é um dos mais importantes fabricantes de eletroeletrônicos de ponta
Em um cenário bucólico de montanhas e pequenas casas coloridas, Santa Rita do Sapucaí, no sul de Minas Gerais, é uma cidade típica do interior brasileiro. Nos bastidores de tanta simplicidade há um polo formado por 141 indústrias desenvolvedoras de alta tecnologia.
O município, de 40 mil habitantes, já criou 12 mil produtos inovadores, como o sistema embutido na urna eletrônica, equipamento inédito no mundo.
Apesar do comércio formado por pequenos restaurantes, cabeleireiros, farmácias e minimercados, a economia local depende, e muito, dessas empresas. O segmento de eletroeletrônicos emprega 25% da população, cerca de 10 mil trabalhadores. Grande parte das fábricas atua em eletrônica, telecomunicações e informática, graças a um movimento iniciado há 51 anos. Antigamente, a economia era sustentada pela agropecuária, mais particularmente pela produção de café e leite.
A semente foi plantada em 1959 por uma jovem com surpreendente visão de futuro para mulheres de sua época. Sinhá Moreira, filha do banqueiro Francisco Moreira da Costa e descendente de uma família de políticos tradicionais. Ao retornar de uma viagem ao exterior, fundou a primeira Escola Técnica em Eletrônica da América Latina, a ETE. A partir de então, a rotina da pequena cidade mudou.
Outro fator positivo é a localização estratégica. O município está a 220 quilômetros de São Paulo, 400 quilômetros do Rio de Janeiro e 430 quilômetros de Belo Horizonte.
O sucesso das pequenas fábricas de Santa Rita atualmente tem o incentivo do Programa Municipal de Incubação Avançada de Empresas de Base Tecnológica (Prointec), criado há dez anos. Trata-se de um conjunto de ações articuladas pelo poder municipal que tem por objetivo o desenvolvimento social da cidade por meio do fortalecimento do processo de geração, incubação e atração de empresas.
Paralelamente, o segmento de eletrônicos em Santa Rita do Sapucaí deverá receber investimentos de R$ 180 milhões, segundo Roberto de Souza, presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica – como a cidade é conhecida–, o Sindvel.
"Cerca de 8% de toda a produção da cidade é voltada à exportação. Concorremos com a China em eletrônicos, mas nossos produtos possuem melhor qualidade e muito valor agregado. "
Evento – Além da produção das urnas eletrônicas há outros itens que se destacam. Os produtos foram apresentados na 11ª edição da Feira Industrial do Vale da Eletrônica (Fivel), realizada em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-MG), entre 15 e 17 de setembro.
A expectativa do Sindvel é de que o evento tenha gerado negócios de cerca de R$ 700 milhões com a visita de compradores de diversas regiões da América do Sul. "Investimos R$ 600 mil nessa edição para promover rodadas de negócios . Promovemos o lançamento de 50 produtos de base tecnológica", disse Souza. Segundo a entidade, o faturamento dos eletrônicos deverá atingir R$ 1,4 bilhão neste ano, ante R$ 1,1 bilhão em 2009.
Além do esforço dos empresários da região, o sucesso das pequenas empresas de Santa Rita do Sapucaí está diretamente ligado ao desenvolvimento interno do mercado brasileiro. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), o faturamento do segmento de eletroeletrônicos cresceu 18% no primeiro semestre em relação a igual período do ano passado.
Na comparação com os primeiros seis meses de 2008, a expansão foi de 3%, indicando que o setor voltou aos patamares pré-crise.
A projeção de faturamento para o ano é de R$ 128 bilhões, aumento de 14% em relação aos R$ 111,8 bilhões alcançados em 2009.
A expectativa é que as exportações representem 10,5% do faturamento, ante 13,4% em 2009 e 20,4% em 2005.
Todas as urnas eletrônicas utilizadas nas eleições brasileiras são fruto de uma parceria entre duas empresas de Santa Rita do Sapucaí: a MCM Controles eletrônicos (fabricante do equipamento) e a Dibold (desenvolvedora do sistema). Para as eleições deste ano, que serão realizadas em 3 de outubro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pediu a fabricação de 165 mil equipamentos. Para atingir essa meta, cerca de 460 funcionários trabalham em período integral, produzindo, diariamente, 2 mil urnas.
Por causa da demanda, a MCM precisou construir uma fábrica própria desses equipamentos. Segundo o gerente industrial da empresa, Alexandre Rodrigues Fernandes, quatro meses de produção dessas urnas equivalem ao faturamento anual da empresa. "E olha que produzimos 10 mil fontes de notebook por dia, produto que é nosso carro-chefe."
Biometria – O equipamento envolve alta tecnologia. Nas eleições de outubro, 1,2 milhão de eleitores de 65 cidades utilizarão urnas com sistemas inteligentes de identificação, como biometria e foto. Em Minas Gerais, 200 mil eleitores foram cadastrados para utilizar as novas tecnologias no momento da votação. Devido ao alto custo, a nova sistemática será adotada de maneira gradativa no País. "A expectativa é que esse novo sistema seja utilizado em 2020", afirma Fernandes.
Na fábrica localizada em Santa Rita do Sapucaí, as últimas unidades estão em fase final de teste. A reportagem do Diário do Comércio conferiu o trabalho de perto. Todos os botões são testados e o equipamento precisa ficar ligado por 24 horas seguida para, só então, ser aprovado. Depois das eleições, todas as urnas serão armazenadas nas sedes dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs). Após 60 dias do processo eleitoral, o material registrado na memória da máquina será apagado.
Produzida pela primeira vez em 1996, a urna eletrônica é considerada um equipamento de grande confiabilidade: elimina fraudes eleitorais, oferece ao cidadão um processo simples e ágil de votação e garante rápida apuração dos resultados das eleições. "E ela é 100% brasileira. Um grande motivo de orgulho para nós", finaliza o executivo.
De tokens a fones de ouvido bluetooth à prova d'água
As empresas que desenvolvem tecnologia em Santa Rita do Sapucaí sonham em desbancar a China no segmento eletrônico. Para isso, produzem itens sofisticados, como a cafeteira que transforma leite gelado em leite cremoso em 30 segundos e desenvolvem soluções em LED para iluminação pública, por exemplo.
O trabalho, exposto na 11ª Feira Industrial do Vale da Eletrônica (Fivel), chama a atenção de grandes clientes. Redes de eletrodomésticos, supermercados, magazines, bancos e o próprio governo já negociam com essas empresas.
Um exemplo disso é a Enterplak, que produz placas para robôs eletrônicos da indústria automobilística e itens para transações bancárias pela internet. A empresa, fundada em 1985 pelo empresário José Carlos Ribeiro, emprega 230 funcionários e espera crescer 100% neste ano em relação a 2009. O motivo é o aumento de 25% na carteira de clientes. "Pelos meus cálculos, se conquistarmos mais dois clientes, terei que construir outra fábrica", comemora.
Ribeiro se refere a um produto em específico: o token, dispositivo físico que auxilia o usuário quanto à segurança pessoal, gerando uma senha temporária de proteção para sua conta bancária na internet. A Enterplak é responsável por fornecer o equipamento ao Bradesco e está prestes a assinar contrato com o Banco do Brasil (BB) e com a Caixa Econômica Federal (CEF). "Produzimos 220 mil unidades por mês e pretendemos triplicar esse número em breve", afirma o executivo.
A empresa também é responsável pela fabricação de placas para braços mecânicos usados na indústria automobilística e reguladores de redes de alta tensão, para regiões com até 10 mil residências.
Já a Pixel TI lançou uma TV em 3D sem a necessidade da utilização de óculos – para projetos de marketing e divulgação. Completam a lista de novidades o transmissor para iPod com caixa de som e o fone de ouvido bluetooth à prova d'água (indicado para quem faz aulas de natação) e gabinetes de computador com tecnologia HDMI, sistema de conexão capaz de lidar com áudio e vídeo ao mesmo tempo, resultando em alta definição.
Os produtos estarão no varejo a partir de novembro, em lojas especializadas de eletroeeletrônicos a fim de aproveitar a temporada de vendas na época de Natal.
"Neste ano, nosso faturamento deve alcançar cerca de R$ 20 milhões, valor 100% maior em relação a 2009", diz o diretor comercial da Pixel TI, Cláudio Ribeiro.
(Fonte: Vanesa Rosal – Diário do Comércio em 27/0902010)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Adorei receber sua visita!
Ler seu comentário, é ainda melhor!!!
Responderei sempre por aqui.