Canção de um longo amor
Tão sutilmente em tantos longos anos
foram se trocando sobre os muros
mais que desigualdades, semelhanças,
que aos poucos dois são um, sem que no entanto
deixem de ser plurais:
talvez as asas de um só anjo , inseparáveis .
Presença e solidão foram tecendo a vida:
o filho que se faz, uma árvore plantada,
o tempo gotejando do telhado ,
o tédio que ronda e não se instala.
Vontade de partir e de ficar,
beleza reinventada a cada hora para não baixar
o pó do cotidiano desencanto.
Tão fielmente adaptam-se almas destes corpos,
que uma em outra pode se trocar,
sem que alguém de fora o percebesse nunca.
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