Os segredos da Biblioteca
A Nacional completa 200 anos com acervo em que uma só obra vale até R$ 9 milhões
Rio - Principal guardiã da memória do Brasil e zeladora de 9 milhões de obras, a Biblioteca Nacional comemora 200 anos na próxima sexta-feira com muita história e segredos a contar. Junto a manuscritos e documentos centenários — boa parte trazida pela Família Real, em 1808 —, a instituição guarda relíquias: cartas de D. Pedro I à amante, peças únicas no mundo e livros decorados com ouro. Todo o acervo é monitorado por criterioso esquema de segurança, capaz de visualizar até o que o visitante escreve.
Andar pela Biblioteca Nacional equivale a uma viagem no tempo com estações por todas as épocas da História. Para desfrutar do local, porém, o usuário só pode levar lápis e papel. Bolsa deve ser guardada em armários e celular, só no modo silencioso.
Setor onde o acesso é o mais restrito, a Divisão de Obras Raras guarda as peças impressas mais valiosas da instituição, algumas de quase R$ 9 milhões. Entre as ‘joias’ está a Bíblia de Mogúncia, primeiro impresso que contém data, lugar de impressão e nome do impressor. Segundo a chefe do departamento, Ana Virgínia Pinheiro, uma universidade norte-americana ofereceu um prédio por um exemplar da obra, mas a instituição recusou a proposta. A Biblioteca tem dois exemplares, cada um com dois volumes.
Por ter valor incalculável, a Bíblia fica guardada em um dos três cofres do setor, cujo segredo é conhecido por apenas um funcionário. O livro ‘Os Lusíadas’, de Luís de Camões, também está trancafiado. O acesso às obras raras não é proibido, mas o pesquisador precisa de uma boa justificativa para explorar o local. “O usuário deve comprovar que o objeto de estudo necessita das obras raras. Quando o cofre é aberto, a equipe de segurança é avisada e fica alerta”, explica.
Livros de Santo Agostinho censurados na época da Inquisição, além de obras eróticas, com histórias ‘picantes’ integram o setor. Na época da ditadura no Brasil, muitas obras passíveis de censura foram ‘exiladas’ no setor. Bibliotecários esconderam os livros ali, porque a seção não era vistoriada pelos censores.
Segundo Ana Virgínia, obras produzidas até 1720 são consideradas raras, independentemente do assunto. Livros com capas trabalhadas artisticamente também integram o rol.
3 milhões de títulos
O espaço que concentra mais livros, com 3 milhões de obras, é o Salão de Leituras, frequentado, principalmente, por estudantes. Há 14 anos na Biblioteca, Ivone Lacerda Ribeiro conta que os temas mais procurados são Português e Direito, porém, assuntos inusitados também levam leitores à instituição. “Principalmente às sextas, livros de Kama Sutra, magia negra e macumba são muito pedidos”, relata.
Trajetória começou em um hospital da Praça 15
Considerada a maior da América Latina e 8ª maior do Mundo, a Biblioteca Nacional foi fundada em 29 de outubro de 1810 em um hospital próximo à Praça 15. De lá, foi para o prédio que abriga a Escola de Música da UFRJ, na Lapa, onde permaneceu até outubro de 1910, quando o atual edifício, na Avenida Rio Branco, foi concluído.
As raridades, cuidadosamente armazenadas, são separadas da seguinte forma: Obras Gerais (trabalhos acadêmicos e folhetos para pesquisa imediata), Periódicos (jornais, revistas e Diário Oficial), Iconografia (desenhos e fotos), Manuscritos (documentos feitos à mão), Cartografia (mapas) e Música (discos e partitura).
No setor de manuscritos está a obra mais antiga da Biblioteca: um manuscrito em grego, dos 4 Evangelhos, do século 11 ou 12. Na seção, é possível ver cartas de D. Pedro I à amante, Marquesa de Santos, a sentença de Tiradentes e a carta de Abertura dos Portos.
(Fonte: http://odia.terra.com.br em 23/10/2010)
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