quarta-feira, 18 de maio de 2011

Gostei... - O projeto ‘politicamente correto’ de país

Os livro mais interessante estão rendendo assunto. Vejam o editorial do jornal O Globo de hoje.

O projeto ‘politicamente correto’ de país

É por si só assustador que o ministério denominado de Educação aprove um livro didático que admita erros de português, e se recuse a recolhê-lo. As entranhas desta história, porém, são até mais graves.
A autora do desatino, Heloísa Ramos, tem uma justificativa articulada para admitir, em livro a ser usado em sala de aula, erros toscos de concordância verbal.
Em vez de “certo” e “errado”, a autora usa os adjetivos “adequada” e “inadequada” para qualificar a gramática utilizada, a depender do ambiente social de cada um.
A explicação enviesada serve de pista para a origem do absurdo. Este atentado à educação pública brasileira, considerada por unanimidade o maior empecilho a que o país atinja um estágio superior de desenvolvimento e se mantenha nele, se assenta numa visão ideológica da sociedade alimentada pela “mitologia do excluído”, ligada à “síndrome da tutela estatal”.
Todo aquele considerado “excluído” da sociedade precisa de um tratamento especial — de acordo —, a lhe ser concedido por um Estado que tudo sabe e toma decisões supostamente corretas para resgatar pessoas da exclusão. Aqui estão os problemas.
É por ser um projeto estruturado, de raízes bem fincadas em Brasília nestes últimos oito anos, que o MEC se curva à escolha do livro sob a alegação de que ele passou pelo crivo de professores universitários. Ora, que seja.
O MEC não pode admitir qualquer material didático, em nome do que for, com erro. “Nós pega o peixe” está tão errado quanto dizer que a soma de 2 + 2 é igual a 5. Deriva desta mesma mitologia do excluído o projeto, também engendrado no MEC, de fechar espaços de excelência há gerações a serviço do ensino de crianças com deficiências auditivas e visuais.
Por esta ideologia deformada, os alunos estão sendo “excluídos” da sociedade, ao terem um adequado atendimento especial. Mas é o contrário: fechados esses espaços (no Instituto Nacional de Educação de Surdos/Ines e no Instituto Benjamin Constant/IBC), estará, aí sim, decretada a marginalização dos portadores de necessidades especiais.
É característica desta cultura do politicamente correto produzir projetos com sérios efeitos colaterais. Um aluno que imagina poder atropelar as regras de concordância será condenado a empregos de baixa remuneração. Crianças com problemas físicos, sem professores e escolas preparados para elas, estarão de fato excluídas da sociedade.
Outro fruto legítimo deste projeto politicamente correto de país são as cotas raciais, em que o mérito fica em segundo plano, e toda a população branca de baixa renda terá barrado o acesso ao ensino superior. Ou, no mínimo, bastante dificultado.
Por trás de tudo está o entendimento de que cabe a um Estado forte, onipresente, zelar pela sociedade — mesmo que ela não queira. Decorre da síndrome da tutela estatal, num exemplo recente, a lei que estabelece a bizarra norma de roupas de baixo femininas e masculinas virem com etiquetas de alertas para cuidados com a saúde.
A mesma síndrome é responsável por tentativas ilegais da Anvisa de censurar peças publicitárias (apenas lei aprovada no Congresso tem este poder).
Até layout de farmácia foi regulamentado para evitar a “automedicação” (?!).
O livro de português com erros não é portanto algo isolado. Apenas se trata de um caso mais escabroso, decorrente da influência do politicamente correto em Brasília.
(Fonte: Editorial de O Globo em 18/05/2011)

Um comentário:

  1. Nídia, sou de um tempo em que os livros didáticos, criteriosamente elaborados e indicados, passavam de de geração à geração.
    Estudei na Crestomatia, que "herdei" de meu irmão mais velho 10 anos que eu. Já não "exijo" tanto...Fico indignada, com a banalizção da educação, do emsino. Já não atuo como professora,mas participo das reuniões pedagógicas em que meus colegas escolhem os livros para o ano seguinte. É de espantar, tantas barbaridades alí impressas.
    Esta última, do MEc é uma pândega, parece piada. É PREOCUPANTE, o cenário atual.
    Onde vamos chegar, caso não haja reavaliações sérias, no meio acadêmico que "cuida" do futuro da Educação Brasileira...?

    Beijos

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