O pinhão-manso (Jatropha curcas L.), arbusto pequeno e comum do Norte de Minas, guarda em seu caule um poderoso cicatrizante, que pode revolucionar a indústria farmacêutica. Em testes com animais, a substância já se mostrou mais eficaz que os medicamentos encontrados no mercado em vários aspectos. Além de ser 100% natural, o fitoterápico cura mais rápido e não tem toxicidade e, pelo que tudo indica. A descoberta recente é dos pesquisadores Nilo César Baracho e Daniel Antunes Rubim, em estudo premiado desenvolvido na Faculdade de Medicina de Itajubá (FMIT), em parceria com a Universidade Federal de Itajubá (Unifei). Este mês, a dupla espera conseguir a patente do produto junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) e registrá-lo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Ano que vem, começam as pesquisas em humanos. O remédio não tem compostos sintéticos e será testado na forma natural, pomada, gel e loção. Em todas as modalidades, o uso é tópico, ou seja, é aplicado diretamente aos ferimentos superficiais, como cortes, perfurações, queimaduras e arranhões. A expectativa é que o medicamento, que já despertou interesse de indústrias farmacêuticas, esteja disponível nas prateleiras das farmácias em três anos. De acordo com Baracho, farmacêutico-bioquímico, a pesquisa teve início quando Rubim, médico recém-formado, ainda era seu aluno na Faculdade de Medicina. A empresa da família de Rubim já produzia biodiesel a partir do pinhão-manso e o desafio foi usar a mesma matéria-prima para fins medicinais.
“Moradores da zona rural já falavam que quando tinham feridas passavam o latéx do pinhão-manso”, conta. A partir das constatações práticas, os pesquisadores se debruçaram sobre a planta. O primeiro passo foi desenvolver técnica para a coleta do latéx, encontrado no caule do arbusto. “Desse latéx, beneficiado quimicamente em laboratório, extraímos um conjunto de substâncias”, explica Baracho, sem dar muitos detalhes. Como não tem ainda a patente do produto, a dupla mantém trancado a sete chaves o nome do princípio ativo encontrado no latéx, assim como o procedimento de coleta.
RESULTADOS
Os testes foram feitos em ratos da linhagem wistar. Divididos em quatro grupos, os animais receberam tratamento para feridas induzidas em laboratório. Controlado apenas com soro fisiológico, o primeiro grupo serviu de base de comparação. Dois grupos foram tratados com pomadas cicatrizantes disponíveis no mercado e o quarto grupo recebeu a substância retirada do pinhão-manso. “Na comparação dos resultados, o latéx foi tão bom quanto ou melhor que as demais substâncias. Enquanto a cicatrização levou em torno de 21 a 30 dias com o controle, com o pinhão-manso e os demais medicamentos o ferimento já estava cicatrizado com 10 dias. A qualidade da cicatrização foi um pouco melhor com o pinhão-manso”, ressalta.
O perigo de toxicidade também foi afastado. “Ele não prejudica as funções hepáticas e renais, mostrando que não atinge a circulação sistêmica”, acrescenta Baracho. Outra vantagem é o preço do medicamento, que deverá custar de 30% a 40% a menos que os similares, vendidos a R$ 30. Fora o fato de o produto ser um medicamento fitoterápico, elaborado exclusivamente a partir de matérias-primas vegetais. “Você aproveita sua biodiversidade, usa um subproduto da planta, um fármaco fitoterápico, e ainda gera renda no campo”, ressalta o farmacêutico-bioquímico. Na próxima fase da pesquisa, o produto será testado em cerca de 200 pessoas, dividas em um grupo com ferimentos comuns e outro com pacientes diabéticos – por causa da doença, eles têm maior dificuldade de cicatrização. Nesse momento, a dupla vai investigar de que forma o princípio ativo encontrado no latéx do pinhão-manso age no organismo.
A pesquisa apresentou resultados tão surpreendentes que motivou professor e aluno a se tornarem sócios, criando a Biotropha, empresa voltada para medicamentos fitoterápicos. O estudo já venceu diversos prêmios. “Agora, estamos trabalhando com outras plantas. Um dos produtos que desenvolvemos é uma geleia, feita a partir de um saboroso fruto, que combate a hipertensão e a disfunção erétil. Nos ratos, ela já mostrou resultado”, adianta Baracho.
(Flávia Ayer - Estado de Minas em 04/12/2009)
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