O primeiro vestido MEU
Era meados de 1963. Na família toda não se falava em outra coisa que não fosse o aniversário de 90 anos de minha bisavó que ia acontecer no dia 14 de Dezembro. Apenas três dias depois do meu, que não era nem notícia. Creio que nem a Rainha-mãe da Inglaterra teve uma data tão esperada.
Para mim era como se fosse ver o mar pela primeira vez. Ganharia um vestido novo.
Vocês não podem imaginar o que isso significava na cabecinha de uma garota de sete anos, terceira filha numa penca de várias outras. Até então eu só tinha tido vestidos herdados de irmãs mais velhas ou vestidos iguais.
Minha mãe tinha a horrível mania de comprar muitos metros de um mesmo tecido e mandar fazer vestidos do mesmo modelo para o trio: Fátima, Lúcia e eu. Eram nossos vestidos para festas e eventos especiais. Como eu sofria com isso! Sabia de cara que iria usar o mesmo vestido por pelo menos seis, sete anos.
Dedução simples: Mãe de criança pequena manda fazer a roupa maiorzinha para servir por mais tempo. Se cada uma usasse o vestido por dois anos, eu usaria o meu, depois o da Lúcia e ainda o da Fátima que me seriam repassados. Se na época os pais tirassem tantas fotos dos filhos como fazemos hoje, certamente as pessoas pensariam que eu não crescia ou que o vestido esticava.
Lembro-me muito bem de um (na verdade, de três) amarelinho estampado com pequenos quadradinhos azuis e vermelhos. Era recortado na cintura, saia rodada com dois bolsos chapados na frente. A blusa, de manguinhas curtas, era abotoada até a cintura e tinha uma gola redonda. Nas beiradas, dos bolsos e das mangas, havia um passa-fita de bordado inglês por onde corria um viés vermelho para combinar com a estampa. O último que usei desses era um pouco diferente. Depois de uns seis anos de uso - com o tempo e as lavagens constantes - o viés era rosa, pois tinha desbotado bastante.
Na minha terra isso se chamava par de jarras. Não entendia bem como podia ser par, se três era um número ímpar, mas adulto tinha dessas coisas incompreensíveis. Depois entendi que eles usavam a palavra par como sinônimo de igual, não interessava quantos objetos fossem.
Agora não. Era como se fosse meu baile de debutante. Eu ia poder escolher o tecido e o modelo para o vestido dos anos de minha bisavó.
Como era um evento mais que especial quem iria fazê-lo era a Dona Zica, esposa do seu Cunha, nossa vizinha na Vista Alegre. Costureira de mão cheia, mas muito careira para o nosso padrão diário.
Foi um sem fim de idas na casa dela. Primeiro para escolher o modelo. Folheei não sei quantas revistas de vestidos infantis. Meus neurônios entraram em parafuso. Queria todos e tinha que escolher apenas um. Decidia, mas quando virava a página já tinha dúvida se queria mesmo aquele. De repente vi um que me encantou e então olhei para todo o resto com um quê de desdém. Já estava escolhido, nada mais me interessava.
Ela então olhou o escolhido e determinou quais os aviamentos e a quantidade de tecido e forro que deveriam ser comprados. Também ia ser meu primeiro vestido forrado e eu estava achando tudo aquilo muito chique.
Escolhi um tecido rosa e branco de listras finas. Nas listras rosa havia pequeninos losangos de um azul bem clarinho.
Depois de tudo providenciado, era hora de tirar as medidas e esperar a chamada para a primeira prova. Os dias iam passando e nada. Achei tão demorado que comecei a duvidar da competência da costureira. Pensava: Será que escolhi um modelo muito difícil? Certamente ela inutilizou o pano do meu vestido e não tem coragem de contar para minha mãe.
Um dia chegou o esperado recado através de sua filha Maria Luíza e lá fui eu mais que depressa. Que decepção! Era ainda um protótipo de vestido, todo alinhavado e sem forro. Alfineta daqui e dali e ele foi então tomando a forma desejada.
Depois disso, teve mais umas não sei quantas provas. Para prender o fecho , marcar a bainha, etc. Eu não conseguia entender porque a Dona Zica não fazia tudo de uma só vez. Penso que era para aumentar a minha agonia e expectativa. No final, ele ficou muito lindo. Em uns recortes que havia na saia e perto do decote quadrado, ela colocou pequeninas pregas que escondiam as listras brancas. Um trabalho de mestra!!! Muito mais bonito do que o da revista. Digno de um figurino (era assim que as mulheres adultas chamavam as revistas com modelos de roupas- e chamam até hoje).
Agora era aguardar o grande dia da festa.
O vestido ficou lá, pendurado no guarda-roupa, passado e sendo conferido todos os dias. Diferente. Único. Singular. Inesquecível.
Muito mais que lindo, ele era o primeiro vestido verdadeiramente MEU.
Minha mãe tinha a horrível mania de comprar muitos metros de um mesmo tecido e mandar fazer vestidos do mesmo modelo para o trio: Fátima, Lúcia e eu. Eram nossos vestidos para festas e eventos especiais. Como eu sofria com isso! Sabia de cara que iria usar o mesmo vestido por pelo menos seis, sete anos.
Dedução simples: Mãe de criança pequena manda fazer a roupa maiorzinha para servir por mais tempo. Se cada uma usasse o vestido por dois anos, eu usaria o meu, depois o da Lúcia e ainda o da Fátima que me seriam repassados. Se na época os pais tirassem tantas fotos dos filhos como fazemos hoje, certamente as pessoas pensariam que eu não crescia ou que o vestido esticava.
Lembro-me muito bem de um (na verdade, de três) amarelinho estampado com pequenos quadradinhos azuis e vermelhos. Era recortado na cintura, saia rodada com dois bolsos chapados na frente. A blusa, de manguinhas curtas, era abotoada até a cintura e tinha uma gola redonda. Nas beiradas, dos bolsos e das mangas, havia um passa-fita de bordado inglês por onde corria um viés vermelho para combinar com a estampa. O último que usei desses era um pouco diferente. Depois de uns seis anos de uso - com o tempo e as lavagens constantes - o viés era rosa, pois tinha desbotado bastante.
Na minha terra isso se chamava par de jarras. Não entendia bem como podia ser par, se três era um número ímpar, mas adulto tinha dessas coisas incompreensíveis. Depois entendi que eles usavam a palavra par como sinônimo de igual, não interessava quantos objetos fossem.
Agora não. Era como se fosse meu baile de debutante. Eu ia poder escolher o tecido e o modelo para o vestido dos anos de minha bisavó.
Como era um evento mais que especial quem iria fazê-lo era a Dona Zica, esposa do seu Cunha, nossa vizinha na Vista Alegre. Costureira de mão cheia, mas muito careira para o nosso padrão diário.
Foi um sem fim de idas na casa dela. Primeiro para escolher o modelo. Folheei não sei quantas revistas de vestidos infantis. Meus neurônios entraram em parafuso. Queria todos e tinha que escolher apenas um. Decidia, mas quando virava a página já tinha dúvida se queria mesmo aquele. De repente vi um que me encantou e então olhei para todo o resto com um quê de desdém. Já estava escolhido, nada mais me interessava.
Ela então olhou o escolhido e determinou quais os aviamentos e a quantidade de tecido e forro que deveriam ser comprados. Também ia ser meu primeiro vestido forrado e eu estava achando tudo aquilo muito chique.
Escolhi um tecido rosa e branco de listras finas. Nas listras rosa havia pequeninos losangos de um azul bem clarinho.
Depois de tudo providenciado, era hora de tirar as medidas e esperar a chamada para a primeira prova. Os dias iam passando e nada. Achei tão demorado que comecei a duvidar da competência da costureira. Pensava: Será que escolhi um modelo muito difícil? Certamente ela inutilizou o pano do meu vestido e não tem coragem de contar para minha mãe.
Um dia chegou o esperado recado através de sua filha Maria Luíza e lá fui eu mais que depressa. Que decepção! Era ainda um protótipo de vestido, todo alinhavado e sem forro. Alfineta daqui e dali e ele foi então tomando a forma desejada.
Depois disso, teve mais umas não sei quantas provas. Para prender o fecho , marcar a bainha, etc. Eu não conseguia entender porque a Dona Zica não fazia tudo de uma só vez. Penso que era para aumentar a minha agonia e expectativa. No final, ele ficou muito lindo. Em uns recortes que havia na saia e perto do decote quadrado, ela colocou pequeninas pregas que escondiam as listras brancas. Um trabalho de mestra!!! Muito mais bonito do que o da revista. Digno de um figurino (era assim que as mulheres adultas chamavam as revistas com modelos de roupas- e chamam até hoje).
Agora era aguardar o grande dia da festa.
O vestido ficou lá, pendurado no guarda-roupa, passado e sendo conferido todos os dias. Diferente. Único. Singular. Inesquecível.
Muito mais que lindo, ele era o primeiro vestido verdadeiramente MEU.
P.S. : Sobre a festa, eu conto outro dia.
E esta festa que não chega nunca...quero ver logo como ficou o vestido.
ResponderExcluirMeu amor, obrigada pelo comentário e pelo incentivo.
ResponderExcluirAi Nídia, eu vou dizer MIL vezes que VC me faz viajar...
ResponderExcluirQue delícia ler TUDO que vc escreve!!!
Concordo com OSMAR, e esta festa que não chega??? rsrsrsrrs...
Oi, Rita. Que bom que te faço viajar no rastro da memória. Depois postei contando da festa. Procure no marcador historinha que tem. Beijos e obrigada pelo incentivo sempre gostoso de ler.
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