A médica pediatra e sanitarista Zilda Arns Neumann, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, morreu no forte terremoto que abalou o Haiti nesta terça-feira. Ela tinha 75 anos e também era coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa.
Zilda Arns nasceu em Forquilhinha (SC) em 25 de agosto de 1934 e morava em Curitiba. Irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo emérito de São Paulo, ela foi proposta pelo governo para o Prêmio Nobel da Paz por três anos seguidos.
Formada em Medicina, aprofundou-se em Saúde Pública visando salvar crianças pobres da mortalidade infantil, da desnutrição e da violência em seu contexto familiar e comunitário. Zilda Arns desenvolveu uma metodologia própria de multiplicação do conhecimento e da solidariedade entre as famílias mais pobres, baseando-se no milagre bíblico da multiplicação dos dois peixes e cinco pães que saciaram cinco mil pessoas, como narra o Evangelho de São João.
Em 2003, Zilda Arns recebeu o prêmio 'Faz Diferença', do jornal O GLOBO, de 'Personalidade do Ano', por seu trabalho à frente da Pastoral da Criança. Presente em todos os estados do Brasil e em mais 20 países, a Pastoral da Criança tem mais de 240 mil voluntários capacitados atuando em 40.853 mil comunidades em 4.016 municípios. Acompanha quase 95 mil gestantes e mais de 1, 6 milhão de crianças pobres menores de seis anos.
A entidade teve início em uma reunião da ONU sobre a paz mundial, em 1982. Na reunião, o cardeal dom Paulo Evaristo Arns, foi convencido pelo então diretor-executivo do Unicef, James Grant, de que milhares de crianças poderiam ser salvas se as mães pobres aprendessem a fazer o soro caseiro.
De volta ao Brasil, dom Paulo perguntou a irmã se ela aceitaria fazer um projeto neste sentido. Viúva e mãe de cinco filhos, Zilda respondeu que também pensaria em outras ações para prevenir a diarréia.
- Hoje entendo que, desde a infância, Deus me preparou para essa missão: tive a medicina e a vocação para a pedagogia, além da formação voltada para a comunidade - disse ela à época.
Zilda conseguiu traduzir suas idéias em cartilhas e apresentou o projeto. Foi escolhida para piloto a cidade do Paraná em que a mortalidade infantil era mais alta, com uma taxa de 127 mortes por mil crianças nascidas vivas: Florestópolis.
Em 2004, Zilda Arns recebeu da CNBB outra missão, fundar, organizar e coordenar a Pastoral da Pessoa Idosa. Atualmente mais de 129 mil idosos são acompanhados todos os meses por 14 mil voluntários.
Em sua mesa de trabalho sempre havia muitas fotos de família e um texto, em alemão, do escritor católico Adolph Kolping: "Deus dá a felicidade, mas o homem tem que percebê-la".
Entre os prêmios internacionais recebidos por Zilda Arns, merecem destaque: o Prêmio "Heroína da Saúde Pública das Américas", concedido pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em 2002; o Prêmio Social 2005 da Câmara de Comércio Brasil-Espanha; a Medalha "Simón Bolívar", da Câmara Internacional de Pesquisa e Integração Social, em 2000; o Prêmio Humanitário 1997 do Lions Club Internacional; e, o Prêmio Internacional da OPAS em Administração Sanitária, 1994.
(O Globo em 13/01/2010)
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Que pena que não existe mais - Zilda Arns
Zilda Arns, a defensora das crianças e dos idosos
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