quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Serviço - Enchentes elevam risco de leptospirose e hepatite

Contato com a enxurrada e a sujeira deixada pela água pode ser perigoso

“Você teve algum contato com enchentes?”, perguntou o médico ao paciente que entrava às pressas no hospital. Era início de dezembro de 2009 quando Aguinaldo Antônio de Paiva, de 54 anos, foi internado com dor abdominal, indisposição, vômito e uma dor forte na batata da perna. Em coma induzido, ele não voltou para casa. Morreu na noite de Natal. No laudo, a causa da morte: leptospirose. “A equipe médica não descobriu onde ele se contaminou. Não se sabe se foi com alimento ou em lata de refrigerante. Só sabemos que a água da chuva foi a grande vilã”, conta o irmão de Aguinaldo, o funcionário público Jurandir Emílio de Paiva, lamentando que a doença é cruel. “A informação e a higiene são as melhores formas de se proteger”, avisa.As enchentes trazem riscos das enfermidades típicas deste período do ano. De dezembro a abril, o tempo das tempestades é também tempo de dengue e de hepatite. “Elas estão relacionadas às mudanças de temperatura e incidência de água”, explica a coordenadora de Zoonoses da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Mariana Gontijo Brito. Alguns desses males, como a leptospirose, só se disseminam quando chove porque a bactéria precisa da água para contaminar o homem. Outras, como a dengue, aparecem o ano todo, mas no período chuvoso o número de casos aumenta consideravelmente.

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Aguinaldo foi uma das 75 pessoas que contraíram leptospirose em Minas Gerais no ano passado. Dessas, 52 foram contaminadas entre janeiro e março, sendo que seis morreram. Somente em dezembro de 2008 foram 21 vítimas. “Com o aumento das chuvas e com os alagamentos, os roedores de áreas urbanas ficam desabrigados e, na busca de abrigos, contaminam as águas. Além disso, o lixo atrai esses animais e entopem os bueiros. É um ciclo”, afirma Mariana.
Considerada a doença mais preocupante neste período do ano, a leptospirose, de acordo com a médica e infectologista Tania Marcial, atinge, principalmente, homens adultos. “Cerca de 10% dos casos evoluem para a forma mais grave, chegando até mesmo a causar morte”, avisa, acrescentando que o tratamento inicial é à base de penicilina. “Na evolução do caso é feita hemodiálise.” A contaminação ocorre quando há contágio da pessoa com enchentes. “A bactéria penetra no corpo por feridas ou pelo contato prolongado da pessoa com a água. Se ela ficar um tempo na água, os poros se abrem e facilitam a contaminação”, esclarece Mariana, explicando que os sintomas se assemelham aos de uma gripe forte. “Há náusea, dor na batata da perna e até tom de pele amarelado.” A bactéria se aloja, principalmente, nos rins e pode ser eliminada pela urina do infectado.
Ela alerta que, depois que as enchentes passam, ao limpar a lama que ficou na casa é preciso cuidado: “O resíduo tem um potencial alto de contaminação. Por isso, é indispensável a proteção dos pés e das mãos, seja por botas e luvas ou sacos plásticos”. De acordo com ela, os alimentos que tiverem contanto com a água devem ser desprezados.
Se a chuva não der trégua, a leptospirose faz a festa. O contrário ocorre com a dengue. Nas curtas estiagens o mosquito mais conhecido no Brasil já se reproduz. Até outubro do ano passado, Minas registrou 75,5 mil casos da doença, sendo que, desses, 38 mil foram nos primeiros três meses do ano. A recomendação não muda: não deixar a água parada, seja num vaso de planta, em pneus ou em caixas-d’águas.

Contaminação
Outra vilã neste período chuvoso é a hepatite A, doença infecciosa aguda que causa inflamação e necrose do fígado. A transmissão é por meio da ingestão de água e de alimentos contaminados por fezes ou de uma pessoa para outra. “Alguém que está com o vírus o elimina pelas fezes. Com as enchentes, os esgotos transbordam. A pessoa que tem contato com a água e põe a mão na boca se contamina”, explica a médica e infectologista Tania Marcial, acrescentando que os sintomas são febre, dor de cabeça, dor muscular, enjoo, olhos amarelados e dor abdominal.
De acordo com ela, em 99% dos casos os sinais da doença não evoluem e apenas 0,1% apresenta a forma grave. “Tanto é que na rede pública não há vacina. Cerca de 80% da população já tiveram contato com a hepatite A, mas nem sabem disso. O cuidado deve ser maior com as crianças.”
(Estado de Minas em 07/01/2010)

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