Para os meus leitores que não tem pai ou mãe ou, por infelicidade ainda maior, já perdeu ambos. Que esses poemas sirvam de acalanto neste dia de hoje. Tive a sorte de encontrá-los, tempos atrás, no Blog do Noblat.
Café com meu pai
Debaixo de um pé de café
sepultei o corpo de meu pai,
com o rosto voltado para as ramas,
de modo que seus olhos
seguissem sempre num horizonte verde,
e as narinas, um cheiro doce,
capaz de matar sua sede.
Também para que tivesse sombra nos dias de sol
e muitos companheiros de viagem,
como ele, plantados no cafezal.
Colhe agora o que deu em vida
e o que dele ficou inútil, o corpo,
assim continua a ainda palpita.
Agora que envelheço,
bebo café de outro jeito.
Não só para abrandar o peito,
não só para acender o pito,
mas para rever seu rosto,
um cafezal, e assim existo.
João José de Melo Franco nasceu em Barretos, São Paulo, em 1956, e hoje, é morador de Santa Tereza, no Rio de Janeiro. É poeta, tradutor, publicitário, cineasta e editor, e estreou, em 1979, com o livro Primeira Poesia. Depois publicou Esse Louco Desejo (1980) e Amor Perfeito (1984). Em 2006, depois de 20 anos afastado do mercado editorial, publica O Mar de Ulisses, pela Ibis Libris Editora.
João José de Melo Franco nasceu em Barretos, São Paulo, em 1956, e hoje, é morador de Santa Tereza, no Rio de Janeiro. É poeta, tradutor, publicitário, cineasta e editor, e estreou, em 1979, com o livro Primeira Poesia. Depois publicou Esse Louco Desejo (1980) e Amor Perfeito (1984). Em 2006, depois de 20 anos afastado do mercado editorial, publica O Mar de Ulisses, pela Ibis Libris Editora.
Thereza
Visito minha mãe no Jardim Botânico
Faz dois anos que ela morreu
Parece que faz uma vida
Tenho tanta saudade
Das conversas
Do uisquinho, até do barulho nervoso do gelo
O excesso de uísque ajudou a matá-la
Pena que os excessos matem
Já conheci quem morreu de amor
De excesso e falta
A árvore que eu e minha irmã escolhemos para depositar suas
Cinzas não tem nada de excepcional
É um Tiliacea da Malásia
Ela me parece velha
Foi um descuido espalhar as cinzas numa
Árvore que pode tombar logo
Mesmo antes da minha morte
Me parece um canto agradável
Ela deve estar contente no céu
Estou aqui na terra
Depositar cinzas de cremação no Jardim Botânico
É proibido. Tirar fotos de casamento pode
Imagino se todos depositassem seus mortos
no Jardim Botânico se assemelharia ao Ganges
Todo humano deveria passar uma tarde
Olhando uma cremação do Rio Ganges, na Índia
Depois de pôr fogo no morto, com a presença da Família,
com um pedaço de pau dilaceram-se os
Ossos e o crânio que são muito resistentes ao
Fogo. Tudo é calmo e sagrado. As cinzas vão para o rio
Minha mãe não sofreu muito ao morrer
Eu e minha irmã ficamos contidos. Nossa família é
Assim. Fatalista. Já me falaram que é um resquício
Aristocrático. Sempre nos orgulhamos da
República. Em volta da Tiliacea nasceram cogumelos
Cada vez que visito minha mãe tem novidade
Em volta da árvore. Minha mãe está sempre
Presente e o chão sempre apresenta surpresas
Os cogumelos formam um ajuntamento como uma ninhada
Do meio salta uma flor! É da raça das Therezas.
Guilherme Zarvos (São Paulo, 13 de março de 1957). É poeta, escritor, produtor cultural, professor, cientista social e economista. Guilherme é uma das figuras mais emblemáticas do cenário poético carioca desde os anos 90. Ao lado do poeta Chacal, fundou o CEP 20.000 (Centro de Experimentação Poética) evento underground que resiste e revela poetas e músicos há 18 anos. Doutor em Letras pela PUC - Rio, recentemente publicou sua tese Branco Sobre Branco que conta a história do CEP e sua aventura pela poesia no Rio de Janeiro.
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