quinta-feira, 29 de julho de 2010

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Olavo Bilac

Via Láctea XIII


Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
(Olavo Bilac)

Pálio - Sobrecéu portátil, suspenso por meio de varas, que serve nas procissões para cobrir o sacerdote, a hóstia consagrada ou imagem venerada. (Dicionário Aurélio)

Acho louvável a adaptação do poema, embora não concorde com a troca da palavra pálio por pátio.
Certamente vocês já viram um pálio nas procissões de Corpus Christi. O sacerdote que leva a hóstia é coberto por um pálio carregado por leigos ligados à comunidade da igreja local. Lembro-me que, menina, achava lindo o de Santa Rita do Sapucaí feito de brocado com estrelas douradas que brilhavam com a luz do sol. Uma verdadeira Via Láctea.



Olavo Bilac (Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac), jornalista, poeta, inspetor de ensino, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 16 de dezembro de 1865, e faleceu, na mesma cidade, em 28 de dezembro de 1918. Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, criou a Cadeira nº. 15, que tem como patrono Gonçalves Dias.
Eram seus pais o Dr. Braz Martins dos Guimarães Bilac e D. Delfina Belmira dos Guimarães Bilac. Após os estudos primários e secundários, matriculou-se na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, mas desistiu no 4º. ano. Tentou, a seguir, o curso de Direito em São Paulo, mas não passou do primeiro ano. Dedicou-se desde cedo ao jornalismo e à literatura. Teve intensa participação na política e em campanhas cívicas, das quais a mais famosa foi em favor do serviço militar obrigatório. Fundou vários jornais, de vida mais ou menos efêmera, como A Cigarra, O Meio, A Rua. Na seção “Semana” da Gazeta de Notícias, substituiu Machado de Assis, trabalhando ali durante nos. É o autor da letra do Hino à Bandeira.

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