Morena rejeitada, Anita Loos criou mito da loura burra
The Kobal Collection
Bonita, inteligente, bem-humorada e rica, a escritora americana Anita Loos (1888-1981) foi, certamente, uma das mulheres mais interessantes de sua época.
A despeito de tudo isso, na hora de atrair a atenção masculina, Loos, que era morena, sempre ficava em segundo plano diante de fios de cabelos louros.
A autora, morta há exatos 30 anos, usou esta dor de cotovelo, digamos assim, para difundir um dos principais mitos culturais (e sexuais) do século 20: a loura burra.
Em 1925, ela publicou "Os Homens Preferem as Louras". O romance é narrado em forma de diário por Lorelei Lee, loira estúpida, de pouca cultura, mas incrivelmente esperta quando o assunto é dinheiro.
Em busca de algum homem rico que possa financiar sua "educação", Lorelei conta as divertidíssimas peripécias em que se vê envolvida ao redor do mundo.
No fim das contas, traça uma hilariante sátira do provincianismo americano e do esnobismo europeu.
Fenômeno de vendas nos Estados Unidos, o livro foi traduzido para inúmeras línguas e ganhou uma continuação em 1928: "Mas os Homens se Casam com as Morenas". Foi filmado em 1928 e inspirou espetáculo da Broadway em 1949.
Em 1953, seria novamente levado às telas pelo cineasta Howard Hawks. No papel de Lorelei, Marilyn Monroe tornou-se o principal símbolo da loura desmiolada.
"O legado de Anita foi apresentar uma visão mais irônica sobre o sexo e, também, sobre nós mesmos", diz Cari Beauchamp, autora do livro "Anita Loos Rediscovered" (2003), misto de biografia e coletânea de textos.
A origem de todo esse sucesso remonta ao início dos anos 1920, durante uma viagem de trem.
Loos seguia ao lado do marido, John Emerson, e de alguns dos mais famosos nomes do cinema mudo, como o ator Douglas Fairbanks.
Nenhum deles, contudo, era mais bajulado que uma loura abilolada aspirante à atriz.
Enquanto Loos carregava, sozinha, as pesadas malas, os homens disputavam para saber quem pegaria o livro que a loura deixava frequentemente cair.
A partir daí, Loos começou a relembrar todas as situações nas quais as louras costumavam levar vantagem.
"Parece que eu tinha me dado conta de um importante fato científico que jamais havia notado", relembrou em 1963.
Embora estivesse sempre apaixonada, quase nunca era correspondida --sempre havia um loura no caminho.
Ela viveu um longo e complicado casamento com Emerson, que, segundo contam, explorou o talento dela o quanto pôde.
Do poder das louras não escapava nem mesmo H.L. Mencken (1880-1956), mito do jornalismo americano e ídolo maior de Loos.
O jornalista acabou servindo de modelo para alguns dos homens feitos de gato e sapato por Lorelei no romance. "Menck gostava muito de mim, mas, em matéria de afeto, preferia uma loura desmiolada", disse certa vez.
Loos podia não ser o tipo de Mencken, mas ele logo reconheceu o talento da autora. Outros autores de peso, como James Joyce e William Faulkner, também eram fãs de "Os Homens Preferem as Louras".
Antes mesmo de publicar o livro, Loos era um nome conhecido na cultura americana. Aos 19 anos, já era roteirista do diretor D.W. Griffith.
Também escreveu filmes para o cineasta George Cukor e para o produtor Irving Thalberg, entre outros nomes lendários. Foi amiga de Orson Welles e Cole Porter.
Enfim, não fosse morena, Anita Loos poderia ter sido a mulher mais feliz do mundo.
(Fonte: Marco Rodrigo Almeida – Folha de São Paulo em 18/08/2011)
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