domingo, 21 de agosto de 2011

As várias Canções do Exílio - 5 - Murilo Mendes

O modernista Murilo Mendes, em 1930, também revisitou a Canção do Exílio de Gonçalves Dias. Se o poema de Gonçalves Dias e o Hino Nacional são uma exaltação ufanista da natureza brasileira, os versos de Murilo Mendes tem intenção oposta, pois pretendem ridicularizar esse nacionalismo exaltado.
Murilo escreve sua "Canção do Exílio", empregando o mesmo tom paródico-piadista de Oswald de Andrade. Em sua “Canção do Exílio”, utiliza o mesmo humor e sátira de Oswald, porém de forma mais ousada denuncia a invasão cultural estrangeira no Brasil. Seu poema critica a realidade cultural brasileira. Ele não aceita tudo o que vêm de fora já que também temos coisas boas que devem ser valorizadas. As nossas frutas, como são exportadas, tem o preço elevado e o poeta é um exilado em sua própria terra.
Sua terra se torna verdadeiramente seu Brasil, quando manifesta a vontade de “chupar uma carambola de verdade” e de ouvir um sabiá (pássaro ou povo), que tenha certidão de nascimento brasileira, cantar.

Canção do Exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas.
Os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossa flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil-réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de identidade!
(Murilo Mendes)

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